MBE por Luis Correia. Este é o nome do conteúdo que já está disponível em formato de podcast, vídeo no YouTube e blog, como fruto da parceria entre este cardiologista e pesquisador da Emory University (Atlanta, EUA) e a Fundação Maria Emília.

Por este convênio, o material, no ar desde 2010 com o blog, passou a ser produzido com nova periodicidade e teve sua identidade visual retrabalhada, com o intuito de seguir difundindo conhecimento científico, médico e social para um público ainda mais expressivo.
Confira aqui breve entrevista com Luis Correia sobre o que vem por aí nos próximos meses.

O que você pode adiantar como novidade dessa parceria aos seus milhares de seguidores e também novos usuários?
Concebemos um novo formato do podcast como carro-chefe do projeto. O apoio da FME me trouxe uma vontade de fazer algo mais diverso e estruturado. A ideia é alternar os episódios em torno de quatro grandes temas: epidemiologia: metodologia de pesquisa e aprimoramento da técnica de inferência científica, assunto que desperta muito interesse; processo de decisão em medicina, a meu ver estreitamente relacionado com o que acredito ser a evolução da medicina do futuro; saúde pública: de que forma os conceitos sociais, tais como pobreza, discriminação, meio ambiente etc são determinantes de saúde mais importantes do que healthcare em si; e um artigo científico relevante a ser analisado.

Com o interminável leque de fontes trazidos pela internet e, mais recentemente, a constante e perigosa ameaça das fake news, como garantir solidez e credibilidade ao seu conteúdo?
Um de meus cuidados é tentar não emitir opinião sobre tudo. Penso que este é um problema recorrente, pois, para tratar de assuntos variados, acaba-se dando voz não a especialistas, mas a amadores superficiais que empregam termos elegantes. Idealmente os veículos deveriam buscar fontes especializadas, que estudam o tema profundamente. Por essa razão, ainda que diversificando, preciso manter meu foco para assegurar a legitimidade do que é dito. Pode-se dizer que, sempre que possível, prefiro evitar o “assunto do dia”, em voga, pois as notícias são efêmeras e passam. Já aquilo que é exposto como parte de um projeto fica mais atemporal, com maior perenidade.

Como vc costuma definir MBE para um(a) leigo(a)?
Costumo dizer que não existe MBE, só existe medicina como ela deve ser: escolha em ambientes de incerteza intrínseca, baseada em princípios de decisão e informada por evidências científicas de qualidade (conceitos), provenientes do exame clínico, considerando valores e preferências do(a) paciente. MBE não é um ramo da medicina, mas sim a própria medicina. Assim a defino.

A prática da MBE já está difundida em toda parte no Brasil, ou ainda segue como um conceito relativamente abstrato e desconhecido?
Insisto que MBE não é uma especialidade a ser praticada. É medicina, a maestria do processo de decisão, e da interpretação e uso da evidência. Isso tem evoluído, tem sido mais difundido. Mas é um processo gradual, que envolve não só conhecimento, mas também a forma como o(a) médico (a) pensa e age. Temos muito a evoluir, e vejo grande potencial na geração atual, nos(as) jovens alunos(as) de medicina.

Você é também professor na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, em Salvador, e dirige por lá um núcleo de MBE. Qual o principal conselho que costuma dar a seus(suas) alunos(as)?
Diria “não acredite em conselhos”, mas a gente pode trazer uma perspectiva: Medicina – e aqui me refiro a processo de decisão em saúde, não apenas do(a) médico(a), as palavras se confundem – é uma das profissões mais difíceis que existem. Se fosse um instrumento, seria um violino. Precisamos estimular desenvolvimento da maestria, nos aprofundando no processo de pensar. A verdadeira arte, a melodia, se não for desenvolvida com a humildade de reconhecer as incertezas e com uma estrutura de pensamento bem definida, vai desafinar. Desde o início, é preciso ter motivação para tocar um instrumento complexo, repleto de nuances e notas imprevisíveis.