De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o câncer já é a maior causa de mortalidade em muitos países do mundo. Apesar do dado estatístico sombrio, a ciência é dinâmica e, nos últimos anos, foram muitos os progressos relacionados a métodos diagnósticos e terapêuticos na oncologia.

A imunoterapia, por exemplo, foi o maior avanço terapêutico dos últimos dez anos e rendeu o Prêmio Nobel da medicina em 2018 a James Allison e Tasuku Honjo. Com impacto em vários tipos de tumores (incluindo melanoma, câncer de pulmão, câncer de rim, câncer de bexiga, câncer gástrico, câncer do fígado, câncer do intestino e linfoma, entre outros) e utilizada em diversas fases do tratamento, a terapia ajuda o sistema imune do paciente a lutar contra as células tumorais e mudou o paradigma de resposta em diversos tumores, impactando diretamente na sobrevida dos pacientes.

Outros avanços terapêuticos importantes ocorreram, principalmente com drogas alvomoleculares, e com a tecnologia CAR-TCell, que, no momento, é aplicável, principalmente, aos tumores hematológicos (leucemias e linfomas). Na área de cirurgia oncológica, passamos a ter a ajuda dos “robôs” que auxiliam o cirurgião, melhorando a segurança e precisão em determinadas indicações.

Na genômica, ganhamos testes gênicos somáticos, específicos para cada tipo de tumor, customizados ou mais amplos, utilizando sequenciamento de nova geração (NGS ou exoma completo), que viabilizam a medicina de precisão, com identificação de alterações moleculares. A biópsia líquida é uma outra forma recente de avaliar os genes e eventuais alterações, por meio de uma amostra de sangue, sem a necessidade de fazer uma biópsia de fragmento de tecido. Esse exame pode ser útil tanto para auxiliar na escolha das terapias “alvomoleculares”, como na monitorização de resposta ao tratamento, ou até na detecção de doença residual microscópica após cirurgia de retirada de tumor, utilizando o ct-DNA (DNA de células tumorais circulantes) e auxiliando nas decisões de tratamento preventivo de recidiva.

Apesar desses e muitos outros progressos, o Dia Mundial do Câncer deve servir como lembrança para medidas de prevenção dessa doença, principalmente das causas “modificáveis” como tabaco, álcool, sedentarismo, obesidade e alguns vírus. Aproximadamente 40% dos cânceres podem ser preveníveis. O tabagismo é responsável por aproximadamente 25% das mortes por câncer, incluindo câncer de pulmão, laringe, boca, esôfago, bexiga, dentre outros. Redução de consumo de bebidas alcoólicas, educação alimentar saudável, evitando alimentos processados, gorduras e incrementando frutas, legumes, cereais e proteínas in natura, são práticas importantes.

Além disso, o estímulo a atividades físicas regulares e diárias combate a obesidade e atua como fator protetor. A lembrança da proteção solar é primordial para redução de câncer de pele, especialmente melanoma. O vírus HPV, em especial os tipos 16 e 18, é responsável pela causa de 70% dos cânceres de colo uterino e lesões pré-malignas, e também implicado nos cânceres de canal anal, orofaringe, vagina, vulva, e pode ser combatido com vacina disponibilizada na rede pública. A vacina contra hepatite B também está disponível no Brasil e é um dos instrumentos importantes na prevenção de câncer de fígado. Portanto, apesar de não conhecermos todas as causas do câncer, podemos ter uma ação proativa e educativa nos fatores que podemos modificar.

Autora: Anelisa Coutinho, médica baiana, líder nacional do departamento de tumores gastrointestinais da Dasa Oncologia e presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).