A hanseníase é uma doença infecto-contagiosa causada pelo Mycobacterium leprae, com diversas formas clínicas variando entre lesões localizadas e não contagiantes (forma tuberculóide) até quadros generalizados e contagiantes (formas borderlines e virchowianas). Cerca de 40% dos pacientes desenvolvem episódios inflamatórios agudos (reações hansênicas) que são responsáveis por deformidades e incapacidades. A reação tipo 1 (R1) causa inflamação nas lesões e nervos periféricos (neurite). A reação tipo 2 (R2) causa nódulos subcutâneos, neurite, inflamação articular, febre, dores musculares, e pode comprometer fígado e rins.
MicroRNAs são uma classe de pequenos RNAs, moléculas essenciais para a síntese de proteínas que atuam na complexa interação entre as células do hospedeiro e o agente infeccioso. Estudá-los é importante para entender mecanismos da doença. Os pesquisadores Léa Castellucci e Paulo Machado tem avaliado essas moléculas em biópsias de pele de pacientes com hanseníase. Alguns destes miRNAs (miR-125a-3p, miR-146b-5p e miR-132-5p) estão associados a um maior índice bacilar em pacientes com R1 e R2. Nestes pacientes, esses miRNAS foram correlacionados com a expressão de genes importantes como ATG12 (miR-125a-3p), TNFRSF10A (miR-146b-5p), PARK2, CFLAR e STX7 (miR-132-5p). Estes genes participam no processo de eliminação de micobactérias. Isso indica que há um papel regulador dos miRNAs na patogênse da hanseníase.
Além disso, apoiado pela FME, o grupo de pesquisa em hanseníase do Serviço de Imunologia do Hospital Universitário Professor Edgard Santos, tem avaliado o papel de um antígeno imunomodulador (Sm29) na hanseníase. Análise inicial mostra que o Sm29 é capaz de estimular células de defesa dos pacientes, e causam uma queda na produção de proteínas (quimiocinas CXCL-9 e CXCL-10) associadas ao desenvolvimento de reações hansênicas. Todos esses dados podem contribuir para a identificação e uso futuro de moléculas que inibam o aparecimento das reações, cujo controle é um desafio enorme para evitar as sequelas da hanseníase.
Autores: Léa Castellucci e Paulo Machado – Serviço de Imunologia, HUPES – UFBA.