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Artigo de Milena Lisboa, Psicóloga, Drª em Psicologia
Social (PUC-SP), Prfª Adjunta da Graduação e do Mestrado em Psicologia e
Intervenções em Saúde na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP)
O sofrimento psíquico tem se tornado um problema de saúde
pública e coletiva cada vez mais preocupante no mundo contemporâneo. Com o
aumento constante de emergências psíquicas, observa-se o agravamento de quadros
como ansiedade, despersonalização, depressão e automutilação. Entre as crises
mais graves estão os comportamentos relacionados ao suicídio, um desafio que
exige a elaboração de políticas públicas eficazes e a implementação de
tecnologias de cuidado adequadas.
Dados do Departamento de Informação e Informática do Sistema
Único de Saúde (DATASUS) revelam que, em 2023, foram registradas 444 tentativas
de suicídio entre crianças e jovens de até 18 anos no estado da Bahia.
Especialistas apontam que o sofrimento psíquico é uma condição inerente à
existência humana, presente em diferentes sociedades e épocas. Contudo, as
formas de manifestar esse sofrimento variam de acordo com o contexto histórico
e social. Na sociedade atual, marcada pelo capitalismo, sentimentos como
angústia, solidão, tristeza, apatia e desespero são cada vez mais frequentes.
Cada manifestação de sofrimento psíquico é única,
condicionada por experiências pessoais e sociais. Apesar de ser um fenômeno
coletivo, não é passível de generalizações devido à sua natureza polissêmica.
Para enfrentar essa diversidade, as sociedades produzem diferentes discursos e
formas de cuidado. Atualmente, predominam visões reducionistas que patologizam
o sofrimento psíquico, tratando-o como uma questão exclusivamente individual e
bioquímica, ignorando as influências das relações sociais, econômicas e
políticas.
Diante desse cenário, torna-se urgente a adoção de
estratégias de manejo de crises e de cuidados cotidianos que respeitem a
singularidade de cada caso e promovam a saúde mental com base na identificação
dos determinantes sociais do sofrimento psíquico.
O grupo de pesquisa Psicologia, Diversidade e Saúde, EBMSP, vem
desenvolvendo iniciativas nesse sentido, com foco em pesquisas aplicadas que
consideram o sofrimento psíquico como um fenômeno intrapsíquico, biológico e,
sobretudo, social. Aspectos como pobreza, desigualdade, racismo, questões de
gênero e sexualidade, deficiência e condições de trabalho são apontados como
determinantes socioculturais relevantes.
Combinando ciência e educação, o grupo busca compreender e
intervir nos territórios culturais e existenciais dos indivíduos em sofrimento,
como por exemplo no ambiente escolar, oferecendo soluções de cuidado que visam
tanto à identificação de fatores de risco quanto à promoção de fatores de
proteção.