Coordenador do estudo CHANGE (Creating a Hospital Assessment Network in Geriatrics) e bolsista FME no mestrado em saúde pública da Johns Hopkins University, o professor Marlon Aliberti recebeu, no início de maio, importantes premiações em escala global.

A primeira, outorgada pela própria universidade na cidade de Baltimore, classificou o CHANGE como o melhor projeto internacional prático em saúde pública no ano acadêmico 2024-25.

O segundo reconhecimento foi obtido durante o Congresso Americano de Geriatria (American Geriatrics Society Annual Scientific Meeting), realizado em Chicago.  O trabalho foi apresentado em sessão plenária, na abertura do evento, e considerado um dos três melhores entre os mais de mil projetos submetidos.

O estudo CHANGE, também coordenado pelo professor Thiago Avelino-Silva, é desenvolvido por pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP em parceria com 43 instituições de pesquisa em cinco países (além do Brasil, Angola, Chile, Colômbia e Portugal).

“O estudo criou uma rede de pesquisa multicêntrica voltada para a saúde da pessoa idosa em cuidados hospitalares. Mostramos que uma avaliação integral das pessoas idosas à beira do leito é viável e escalável mesmo em contextos com poucos recursos. Esses achados permitem o avanço de protocolos de cuidados integrais nos hospitais e inspiram políticas públicas que priorizem o cuidado continuado em saúde, aspectos essenciais para melhorar a qualidade de vida das pessoas idosas”, explica Márlon Aliberti, pesquisador da FMUSP e também professor do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

Saiba mais sobre o projeto 

O Estudo CHANGE é uma iniciativa multinacional que busca aprimorar o cuidado integral das pessoas idosas nos hospitais, com foco especial em países de baixa e média renda como o Brasil, onde os profissionais de saúde enfrentam desafios como tempo limitado e escassez de recursos. Em muitos hospitais, um(a) em cada três pacientes internados(as) é idoso(a). O CHANGE atua em 43 hospitais distribuídos nas cinco regiões do Brasil e em mais quatro países: Angola, Chile, Colômbia e Portugal.

O projeto já capacitou mais de 250 profissionais para aplicar uma avaliação integral, simples e prática, diretamente à beira do leito. Os dados levantados pelo CHANGE a partir de 2.500 participantes revelaram que cerca de metade das pessoas idosas hospitalizadas apresentavam fragilidade, e um terço convivia com algum grau de demência. No entanto, essas condições comuns ao envelhecimento muitas vezes não são identificadas pelos profissionais de saúde, conforme recente artigo publicado no Journal of the American Geriatrics Society.

Isso acontece porque o foco das equipes hospitalares costuma estar no tratamento do problema agudo que levou à internação, como, por exemplo, uma infecção ou pneumonia. As evidências do Estudo CHANGE destacam que condições como fragilidade, demência, desnutrição, imobilidade e falta de suporte social são determinantes para entender como as pessoas idosas respondem aos tratamentos hospitalares. A partir dessa percepção, torna-se clara a importância de incluir uma avaliação integral simples à beira do leito nas rotinas clínicas dos hospitais. Essas informações permitem que a equipe de saúde organize melhor o tratamento durante a internação e direcione os cuidados necessários após a alta, promovendo um cuidado integral e continuado, essencial para garantir qualidade de vida às pessoas idosas.

“Nosso trabalho acontece em hospitais públicos e privados espalhados por todo o Brasil, de Manaus a Porto Alegre, passando por capitais do Nordeste como Salvador e cidades do interior, como Vitória da Conquista”, aponta Marlon Aliberti.

A equipe já idealiza o Projeto CHANGE 2.0, que pretende testar melhorias práticas no cuidado com a pessoa idosa, baseadas nas avaliações clínicas que vêm sendo realizadas. “Queremos oferecer ao sistema de saúde brasileiro soluções simples, eficazes e de baixo custo para acolher o número cada vez maior de pessoas idosas que procuram atendimento. Acreditamos que o Brasil tem potencial para ser referência internacional em modelos sustentáveis de atenção à saúde do idoso”, finaliza o pesquisador.