Artigo de Fabio Soler, médico acupunturiatra e bolsista FME no Mestrado em Saúde Pública da Johns Hopkins University
A acupuntura é uma terapia milenar da medicina tradicional chinesa que consiste na inserção de agulhas finas em pontos específicos do corpo, chamados acupontos. A ideia é que, ao estimular esses pontos, o fluxo de energia vital (Qi) é equilibrado, promovendo a saúde e o bem-estar.
Embora enraizada na tradição, a acupuntura vem sendo cada vez mais estudada pela ciência moderna – especialmente a neurociência. Pesquisas indicam que ela pode ser eficaz no alívio de diversos tipos de dor, tanto agudas quanto crônicas. Há evidências que apoiam seu uso para dores pós-operatórias, dores nas costas (lombalgia), dores de cabeça (incluindo enxaqueca), dor no joelho por osteoartrite, dor no pescoço e dor no ombro. Também há estudos sobre seu uso para dor durante o trabalho de parto e cólicas menstruais, e para o controle de transtornos de humor.
Além disso, esse método terapêutico tem sido pesquisado para outras condições, como insônia, dependência de opioides e reabilitação após AVC. No entanto, nesses casos, mais pesquisas de alta qualidade são necessárias para confirmar sua eficácia. Os estudos científicos sobre acupuntura enfrentam desafios, como a dificuldade em criar um grupo de controle adequado (placebo) e a questão da especificidade dos acupontos.
A ciência moderna busca entender como a acupuntura funciona. Algumas teorias sugerem que a inserção das agulhas estimula a liberação de substâncias químicas no corpo, como endorfinas e outros neurotransmissores, que têm efeito analgésico e anti-inflamatório. Também se acredita que a prática possa modular o sistema nervoso, influenciando a maneira como o corpo processa a dor.
Tecnologias já existentes, como os biossensores eletroquímicos – “Organic electrochemical transistors” (OECTs) –, podem ser empregados para acompanhar o progresso da resposta de neurônios sensitivos de pacientes com neuropatia periférica (como a diabética, por exemplo). A pesquisa, combinando avaliação desses aparelhos com acupuntura e reabilitação motora, pode ser promissora, porém o custo ainda é limitante.
Novas tecnologias em desenvolvimento, como as “i-needles” (agulhas inteligentes), prometem ajudar a desvendar os mecanismos de ação da acupuntura com mais precisão no futuro, combinando nanotecnologia, microfilamentos de carbono e rastreio de reações bioquímicas. O promissor e ousado projeto ainda não se concretizou.
Hoje, no Brasil, a acupuntura é um ato médico e requer treinamento especializado. A formação se dá por meio de residência médica, estágio em hospital universitário ou curso de pós-graduação.
A especialidade mostra-se promissora no tratamento de diversas condições, especialmente no alívio da dor. Embora ainda haja muito a ser descoberto sobre seus mecanismos de ação, as evidências científicas atuais sugerem que se trata de uma terapia complementar valiosa. É importante lembrar que a acupuntura deve ser realizada por profissionais qualificados, e que é fundamental conversar com seu·sua médico·a antes de iniciar qualquer novo tratamento.
Referências
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