Artigo de Cecília de Sousa, médica radio-oncologista apoiada pela FME no Master of Public Health (MPH) da Johns Hopkins University

Você sabia que o câncer de pele é tumor mais frequente no Brasil e no mundo? Segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA), o risco estimado é de aproximadamente um caso para cada 1000 pessoas anualmente [1]. Apesar de a maioria desses cânceres não serem letais, eles podem ser localmente agressivos.  Além disso, 4% dos tumores de pele são diagnosticados como melanoma, um câncer de pele com alta mortalidade [1].

Mas, será que tem algo que possamos fazer para prevenir o câncer de pele? A resposta é sim! O uso de protetor solar é capaz reduzir pela metade o surgimento de novos melanomas, além de também prevenir carcinomas de células escamosas [2]. Apesar de ser uma estratégia simples, ainda existem muitas dúvidas. Neste texto, buscamos esclarecer as principais, para que você possa fazer um uso adequado e efetivamente proteger-se do câncer de pele.

O que é o protetor solar e do que  nos protege exatamente?

Radiação pode ser entendida como energia em movimento. O espectro de radiação eletromagnético é dividido de acordo com o comprimento de onda e a energia. A radiação ultravioleta (UV) possui comprimento de onda mais curto do que a luz visível, porém tem mais energia. A exposição a essa radiação UV é fator de risco para o câncer de pele.

O protetor solar é uma preparação tópica (que é aplicada na pele) que contém filtros   capazes de refletir ou absorver a radiação UV. Eles podem ser divididos em orgânicos (antes chamados de químicos) e inorgânicos (antes chamados de físicos), mas ambos protegem contra a radiação UV [3]. Além disso, existe também a opção de protetores com cor, e eles oferecem o benefício adicional de proteger contra a luz visível, o que tem se mostrado benéfico para prevenção de hiperpigmentação (manchas na pele) [4].

Como escolher o protetor?

Na hora de escolher o protetor, devemos pensar em quatro fatores: o FPS, o espectro de cobertura, resistência ao suor e água, e cosmese (métodos para preservar e aumentar a beleza)

A sigla FPS significa fator de proteção solar. Essa medida é baseada na razão de exposição solar mínima necessária para causar vermelhidão na pele, comparando pele protegida e não protegida. Cabe ressaltar que a relação entre absorção de radiação UVB e FPS não é linear, e um protetor FPS 15 já absorve mais de 90%. Tanto a Sociedade Brasileira de Dermatologia quanto a Associação da Academia Americana de Dermatologia recomendam que o mínimo FPS seja de 30. Pessoas com fototipos mais claros (mais sensíveis ã exposição ao sol) devem usar FPSs mais altos. Além disso, estes podem ajudar a compensar, caso uma quantidade insuficiente de produto seja aplicada.

Idealmente, o protetor solar deve oferecer amplo espectro de proteção, incluindo UVB, UVA1 e UVA2. Além disso, é importante avaliar a necessidade do uso de formulações resistentes à água e suor, a depender do clima e das atividades realizadas.

No Brasil, os protetores são regulamentados pela ANVISA. A agência garante que eles cumpram os requisitos de proteção necessários, além de manter os padrões de rotulagem para que os consumidores possam tomar decisões adequadas.

Por último, é importante avaliar a cosmese. A eficácia do protetor depende do uso em quantidade e frequência adequada. Por isso, é importante buscar um produto cujas características agradem  e assegurem a adesão ao uso. Ao escolhê-lo, deve-se prestar atenção na textura, espalhabilidade, cheiro, sensação na pele, e ainda  perguntar: “usarei todos os dias na quantidade correta?

Mas quanto e quando aplicar?

Recomenda-se que seja aplicado 2mg de produto por cm2. Porém, essa medida é de difícil dimensionamento no dia a dia. A chamada “regra da colher de chá” pode ajudar:

1 colher de chá (c.c.) de no rosto e pescoço

1 c.c. para cada braço e antebraço

2 c.c. no tronco

2 c.c. para cada perna/coxa

O protetor deve ser aplicado 15-30 minutos antes da exposição solar, e também deve-se esperar alguns minutos antes de vestir-se. Além disso, ele deve ser reaplicado em caso de suor ou exposição à água, e, idealmente, também a cada 2h.

 Absorção pela pele e vitamina D

 É importante esclarecer que o protetor é uma ferramenta segura e eficaz contra os danos causados pela radiação solar. Contrariando algumas informações errôneas, eles não são absorvidos pela pele. Em vez disso, formam uma barreira protetora na superfície da pele, refletindo ou dispersando os raios UV prejudiciais. Estudos científicos corroboram a segurança dos ingredientes comumente encontrados nos protetores solares [5]. Portanto, utilizá-los regularmente é uma medida crucial para prevenir o câncer de pele e outros danos causados pelo sol, e não representa qualquer risco significativo para a saúde.

E a vitamina D? Estudos avaliando pessoas em condições de vida real mostraram que o uso de protetor solar não afetou as concentrações de vitamina D [6]. Portanto, preocupações com vitamina D não devem prejudicar a proteção solar. De todo modo, pacientes que necessitem proteção mais rigorosa devem avaliar individualmente com seus médicos.

O uso de protetor solar é uma estratégia segura e eficaz para a prevenção do câncer de pele, além de também prevenir o fotoenvelhecimento. Você já escolheu o seu?

Referências

[1] INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA. Estimativa 2023: incidência do Câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2022. Disponível em:  https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/numeros/estimativa Acesso em: 27 de maio 2024.

[2] Green AC, Williams GM, Logan V, Strutton GM. Reduced melanoma after regular sunscreen use: randomized trial follow-up. J Clin Oncol. 2011;29(3):257-263. doi:10.1200/JCO.2010.28.7078

[3] Sambandan DR, Ratner D. Sunscreens: an overview and update. J Am Acad Dermatol. 2011;64(4):748-758. doi:10.1016/j.jaad.2010.01.005

[4] Lyons AB, Trullas C, Kohli I, Hamzavi IH, Lim HW. Photoprotection beyond ultraviolet radiation: A review of tinted sunscreens. J Am Acad Dermatol. 2021;84(5):1393-1397. doi:10.1016/j.jaad.2020.04.079

[5] Australian Government, Department of Health and Ageing, Therapeutic Goods Administration. Literature review on the safety of titanium dioxide and zinc oxide nanoparticles in sunscreens https://www.tga.gov.au/resources/publication/publications/literature-review-safety-titanium-dioxide-and-zinc-oxide-nanoparticles-sunscreens (Acesso em 27 de maio de 2024).

[6] Neale RE, Khan SR, Lucas RM, Waterhouse M, Whiteman DC, Olsen CM. The effect of sunscreen on vitamin D: a review. Br J Dermatol. 2019;181(5):907-915. doi:10.1111/bjd.17980